O retorno de Tom Ripley: A saga de Patricia Highsmith renascida no Brasil
- Raul Silva
- 18 de mar.
- 12 min de leitura
Atualizado: 23 de mar.
Por: Raul Silva, para o Radar Literário do Teoria Literária
Em março de 2025, os amantes da literatura de suspense psicológico no Brasil foram presenteados com o relançamento da emblemática saga de Tom Ripley, criação da genial Patricia Highsmith. Celebrando os 70 anos do lançamento de "O Talentoso Ripley", a editora Intrínseca traz de volta às prateleiras os cinco volumes que narram as intrigantes aventuras de um dos personagens mais complexos e fascinantes da ficção contemporânea.

Uma nova vida para Ripley
Após anos fora de catálogo, os três primeiros volumes da série — "O Talentoso Ripley", "Ripley Subterrâneo" e "O Jogo de Ripley" — chegam às livrarias brasileiras em março, com edições de projeto gráfico renovado e capas inéditas. Os dois volumes finais, "O Garoto que Seguiu Ripley" e "Ripley Debaixo D'Água", têm lançamento previsto para julho deste ano.
Patricia Highsmith: A mente por trás do anti-herói
Nascida em 19 de janeiro de 1921, em Fort Worth, Texas, Patricia Highsmith foi uma escritora singular, cuja obra transcende os limites do thriller psicológico e mergulha profundamente nas complexidades da mente humana. Criadora de Tom Ripley, um dos personagens mais inesquecíveis da literatura criminal, Highsmith construiu uma carreira marcada por tramas engenhosas, protagonistas ambíguos e um olhar aguçado para a moralidade maleável do ser humano.
Desde cedo, Highsmith demonstrou uma relação complicada com o mundo ao seu redor. Sua infância foi marcada por conflitos familiares—sua mãe, que se divorciou antes mesmo de Highsmith nascer, chegou a confessar que tentou abortá-la bebendo terebintina. Esse episódio, somado a uma infância solitária e uma personalidade introspectiva, moldou sua visão cínica e muitas vezes sombria da sociedade. O contato com a psicanálise e a literatura europeia também influenciou fortemente seu trabalho, levando-a a explorar temas como alienação, identidade e a luta entre desejo e culpa.
Apesar de ser frequentemente associada à literatura policial, Highsmith nunca seguiu os moldes tradicionais do gênero. Em vez de detetives brilhantes e vilões óbvios, seus romances apresentavam personagens complexos, muitas vezes frios e calculistas, que desafiavam a moral convencional. Seus protagonistas não eram heróis no sentido clássico, mas figuras movidas por desejos conflitantes e ações amorais, tornando-os ainda mais fascinantes para os leitores.
Foi com seu primeiro romance, Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1950), que Highsmith ganhou notoriedade. A história, adaptada para o cinema por Alfred Hitchcock em 1951, apresenta dois homens que fazem um pacto para cometer assassinatos um pelo outro, desafiando a lógica do bem e do mal. Mas foi em O Talentoso Ripley (1955) que ela criou sua obra-prima: Tom Ripley, um jovem oportunista e manipulador, capaz de cometer crimes com frieza e elegância.
Highsmith viveu grande parte da sua vida fora dos Estados Unidos, estabelecendo-se na Europa, onde encontrou um ambiente mais receptivo à sua literatura e ao seu estilo de vida. Abertamente bissexual, teve diversos relacionamentos amorosos e lidou com um constante sentimento de deslocamento em um mundo que muitas vezes a rejeitava. Sua escrita reflete essa sensação de estar à margem, explorando personagens que, como ela, desafiam rótulos e convenções.
Ao longo de sua carreira, Highsmith publicou mais de 20 romances e dezenas de contos, consolidando-se como uma das vozes mais influentes do século XX. Sua obra continua a ser redescoberta por novas gerações, provando que sua visão da natureza humana—ambígua, inquietante e irresistivelmente sedutora—permanece tão relevante quanto na época em que foi escrita.
Tom Ripley: O camaleão literário
Criado por Patricia Highsmith em O Talentoso Ripley (1955), Tom Ripley é um dos personagens mais enigmáticos e fascinantes da literatura do século XX. Diferente dos vilões convencionais ou dos anti-heróis moralmente redimíveis, Ripley se destaca por sua fluidez—ele não é apenas um vigarista, mas um mestre da transformação, capaz de se adaptar a qualquer situação, mudar de identidade e reescrever sua própria história sem hesitação. Sua trajetória é marcada por um jogo psicológico sofisticado, onde o leitor, mesmo ciente de seus crimes, se vê estranhamente atraído por sua inteligência, charme e astúcia.

O nascimento de Ripley: Um talentoso sobrevivente
Quando Patricia Highsmith criou Tom Ripley, ela não estava interessada em um assassino comum. Seu protagonista é um jovem pobre, vivendo de pequenos golpes e constantemente à margem da sociedade. No início da história, Ripley é enviado à Europa por um milionário ingênuo para convencer seu filho, Dickie Greenleaf, a voltar para casa. No entanto, Ripley logo percebe que deseja muito mais do que uma simples recompensa: ele quer a vida de Dickie. E, para consegui-la, não hesita em manipular, enganar e, eventualmente, matar.
Mas Ripley não é um psicopata tradicional. Ele não mata por prazer sádico, mas por necessidade. Cada crime é cometido de forma meticulosa, como um movimento calculado em um jogo de xadrez, garantindo sua sobrevivência e ascensão social. Ele não quer o caos—ele quer estabilidade, conforto e, acima de tudo, o direito de ser quem deseja ser.
Ripley ao longo da série: Um criminoso sofisticado
Se em O Talentoso Ripley ele ainda se debate entre a culpa e a necessidade de encobrir seus atos, nos livros seguintes (Ripley Subterrâneo, O Jogo de Ripley, O Garoto que Seguiu Ripley e Ripley Debaixo D'Água), vemos um Ripley mais refinado, vivendo na Europa como um homem rico, casado e perfeitamente integrado à elite. Seu estilo de vida é financiado por negócios escusos, falsificações e, ocasionalmente, mais assassinatos.
Mas há algo fascinante na maneira como Ripley conduz sua vida criminosa: ele não age como um mafioso violento ou um serial killer impetuoso. Pelo contrário, ele é educado, culto e incrivelmente civilizado. Quando mata, faz isso sem alarde, sem espetáculos. Para Ripley, o assassinato é apenas uma ferramenta—um meio para um fim. Sua verdadeira habilidade não está na brutalidade, mas na arte da dissimulação.
A psicologia de Ripley: O espelho de um mundo sem moral
O que torna Tom Ripley tão cativante é sua complexidade psicológica. Ele não é apenas um criminoso talentoso, mas um personagem que reflete as ambiguidades morais da própria sociedade. Highsmith construiu Ripley como uma espécie de espelho: ele absorve e reflete os valores do mundo ao seu redor. Em um universo onde status e riqueza importam mais do que integridade, Ripley se torna um sobrevivente que joga segundo as regras implícitas da elite.
Seu talento para a falsificação não se restringe apenas a documentos ou obras de arte—ele falsifica a si mesmo. Ele é um ator consumado, um homem sem identidade fixa, capaz de se tornar quem for necessário para garantir sua posição. Essa habilidade camaleônica é o que o torna tão perturbador e, ao mesmo tempo, tão fascinante para o leitor.
Ripley: um assassino de quem gostamos?
Talvez o aspecto mais intrigante de Ripley seja a forma como Patricia Highsmith nos faz torcer por ele. Diferente de assassinos brutais ou vilões caricatos, Ripley é um homem de bom gosto, amante das artes e da literatura, que gosta de seu jardim e aprecia uma vida confortável no interior da França. Ele não quer o caos—ele quer ordem, e os assassinatos são apenas uma maneira de manter essa ordem intacta.
O leitor, por mais que reconheça suas falhas, não consegue deixar de admirar sua inteligência e autocontrole. Ripley não é movido por impulsos violentos, mas por um pragmatismo frio e eficiente. Ele não quer machucar as pessoas—mas, se precisar, ele o fará sem remorso.
Legado e influência: Ripley além das páginas
Ao longo das décadas, Tom Ripley transcendeu a literatura e se tornou um ícone da cultura pop. Adaptado diversas vezes para o cinema e a televisão, sua figura inspira narrativas sobre identidade, crime e moralidade fluida. Sua influência pode ser vista em personagens como Dexter Morgan (Dexter), Joe Goldberg (You) e até mesmo em figuras do cinema noir.
Tom Ripley é mais do que um vigarista talentoso—ele é um comentário mordaz sobre as aparências, sobre o que estamos dispostos a perdoar em nome do charme e do sucesso. Ele não é apenas um personagem. Ele é um espelho, refletindo um mundo onde a verdade e a identidade são maleáveis, e onde, muitas vezes, os mais talentosos sobrevivem, independentemente dos métodos que escolhem para isso.
Adaptações cinematográficas: Ripley nas telas
O magnetismo de Tom Ripley não se restringe às páginas dos livros. Desde sua criação por Patricia Highsmith, o personagem foi alvo de diversas adaptações cinematográficas e televisivas, cada uma reinterpretando sua ambiguidade moral e seu talento para a dissimulação de maneiras únicas. Ripley, um anti-herói que transita entre o fascínio e o repúdio, encontrou no cinema e na televisão um lar perfeito para suas transformações.

O sol por testemunha (Plein Soleil, 1960) – A primeira e elegante versão
A primeira adaptação de O Talentoso Ripley veio da França, sob a direção do renomado cineasta René Clément. Plein Soleil (O Sol por Testemunha), lançado em 1960, trouxe Alain Delon no papel de Tom Ripley, conferindo ao personagem um charme gélido e uma beleza quase hipnótica.
Diferente do Ripley literário, que é descrito como um jovem de aparência comum, mas dotado de grande astúcia, a versão de Delon enfatiza sua sedução e presença física. Sua interpretação elevou Ripley ao status de um verdadeiro sedutor, mantendo o caráter amoral e manipulador do personagem, mas adicionando um toque trágico ao desfecho da história. Clément alterou significativamente o final do filme, optando por um Ripley que paga por seus crimes—ainda que de maneira inesperada—, diferindo da impunidade calculada da versão original de Highsmith.
Visualmente deslumbrante, com fotografia ensolarada e uma estética de luxo mediterrâneo, Plein Soleil se tornou um clássico do cinema francês e uma das adaptações mais icônicas do personagem.
O talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley, 1999) – A consagração no cinema americano
Quase 40 anos depois, Ripley retornou às telas em sua versão mais conhecida pelo grande público: O Talentoso Ripley (1999), dirigido por Anthony Minghella. Estrelado por Matt Damon como Ripley, Jude Law como Dickie Greenleaf e Gwyneth Paltrow como Marge Sherwood, o filme trouxe uma abordagem mais psicológica e emocional ao personagem.
Diferente das interpretações anteriores, o Ripley de Damon é mais vulnerável, introvertido e até trágico. Enquanto no livro e em Plein Soleil Ripley age com frieza e método, Minghella opta por um Ripley que sofre intensamente com seu desejo de pertencimento. Seu fascínio por Dickie Greenleaf não é apenas motivado por ambição financeira, mas também por uma atração subentendida—um subtexto homoerótico que já existia no romance original, mas que foi amplificado no filme.
A fotografia ensolarada da Itália, a trilha sonora jazzística e o figurino impecável criam um contraste marcante com a escuridão interna do protagonista. Enquanto Ripley se infiltra no mundo de Dickie, o espectador sente ao mesmo tempo empatia e repulsa por ele, uma ambiguidade cuidadosamente construída por Minghella.
Essa versão também introduziu mudanças significativas na narrativa, incluindo um final mais emocional e dramático, em que Ripley, ao contrário da versão literária, parece sucumbir ao peso de seus crimes, carregando um remorso que não é evidente nos livros.
O jogo de Ripley (Ripley’s Game, 2002) – A versão mais cínica
Baseado no terceiro livro da série (O Jogo de Ripley), o filme Ripley’s Game (2002), dirigido por Liliana Cavani, traz John Malkovich no papel do protagonista, apresentando uma versão mais madura e cínica do personagem.
Diferente das adaptações anteriores, esta não se concentra em Ripley como um jovem ambicioso, mas sim como um homem já estabelecido, vivendo confortavelmente na Itália, cercado de luxo e arte. Aqui, Ripley já não é mais um impostor tentando subir na vida—ele já chegou ao topo e agora brinca com o destino dos outros. Ele manipula um homem comum para cometer um assassinato por diversão intelectual, observando a transformação da vítima com um misto de fascínio e desprezo.
A atuação de Malkovich enfatiza o lado mais frio e calculista do personagem. Ele não é um Ripley frágil ou emocionalmente confuso, mas um aristocrata do crime, perfeitamente consciente de sua superioridade moral (ou falta dela). Seu tom de voz controlado, seu olhar penetrante e sua postura implacável fazem deste Ripley o mais próximo da versão literária do terceiro livro.
Embora tenha recebido menos atenção do que O Talentoso Ripley, Ripley’s Game é amplamente elogiado por sua fidelidade ao espírito do personagem e pelo desempenho impecável de Malkovich.
Ripley nas séries de TV: O futuro do personagem
Além do cinema, Ripley também encontrou espaço na televisão. Em 2023, a Netflix anunciou uma nova adaptação de O Talentoso Ripley, estrelada por Andrew Scott (Fleabag, Sherlock). A série, dirigida por Steven Zaillian (O Irlandês, O Gângster), promete uma abordagem mais fiel ao material original, explorando a psique de Ripley com profundidade e um tom mais sombrio.
A escolha de Andrew Scott como Ripley gerou grande expectativa, pois o ator é conhecido por sua habilidade em interpretar personagens ambíguos e manipuladores. A série promete explorar não apenas a ascensão do personagem, mas também seu psicológico complexo, mergulhando nos aspectos mais sutis de sua personalidade.
Ripley: Um ícone do crime literário e cinematográfico
A saga de Tom Ripley continua a intrigar cineastas e roteiristas por sua riqueza psicológica e suas camadas de ambiguidade moral. Seja na elegância ensolarada de Plein Soleil, no existencialismo trágico de O Talentoso Ripley, no cinismo refinado de Ripley’s Game ou nas novas adaptações para a TV, Ripley permanece como um dos personagens mais complexos e atemporais da literatura e do cinema.
Ao longo das décadas, diferentes atores e diretores reinterpretaram Ripley de maneiras distintas—uns mais frios, outros mais sensíveis, alguns mais cínicos, outros mais emocionais—, mas o essencial se manteve: Ripley é um mestre da ilusão, um camaleão social e um lembrete perturbador de que, em um mundo obcecado por status e aparência, aqueles que sabem jogar bem o jogo sempre encontram um jeito de vencer.
A relevância contemporânea de Ripley: O anti-herói que nunca sai de cena
O fascínio por Tom Ripley transcende décadas, adaptando-se às ansiedades e obsessões de cada nova geração. Criado por Patricia Highsmith na década de 1950, Ripley continua tão relevante hoje quanto na época de sua concepção. Sua jornada de um jovem obscuro e ambicioso para um mestre da manipulação e do crime sem remorso ressoa especialmente em uma era dominada por curadoria de imagem, obsessão por status e dinâmicas de poder cada vez mais fluidas.
Mas o que exatamente faz de Ripley um personagem atemporal? Por que, mesmo após mais de 60 anos, ele continua a nos perturbar, intrigar e, de certa forma, seduzir?

🔍 1. A obsessão pela construção de identidade
Vivemos em um mundo onde a identidade é constantemente moldada e reinventada. Redes sociais transformaram a forma como nos apresentamos ao mundo, permitindo que cada um crie e ajuste sua narrativa pessoal. Nesse contexto, Ripley se torna um espelho sombrio da contemporaneidade. Ele não apenas deseja se transformar—ele é a própria metamorfose ambulante.
No Instagram, Twitter ou TikTok, pessoas editam suas vidas, selecionando cuidadosamente os aspectos mais atraentes para exibição. Ripley, de certa forma, faz o mesmo, mas em um nível extremo e letal. Ele percebe que identidade não é um estado fixo, mas um jogo que pode ser manipulado, e ele joga melhor do que qualquer um.
Essa fluidez de identidade—tão comum no discurso contemporâneo sobre gênero, classe e pertencimento—já era explorada por Highsmith décadas antes de se tornar um dos temas centrais da modernidade.
💰 2. O sonho (ou pesadelo) da ascensão social
A desigualdade social sempre foi um motor narrativo para grandes histórias de impostores e golpistas, e Ripley é um dos mais sofisticados entre eles. Sua habilidade de se infiltrar em círculos exclusivos e transformar-se em uma versão mais aceitável de si mesmo ecoa um desejo profundo da sociedade moderna: o de escapar das limitações impostas pelo nascimento e alcançar uma posição de poder e privilégio.
O que torna Ripley diferente dos golpistas tradicionais é sua ausência de culpa. Ele não se vê como um vilão; pelo contrário, acredita estar apenas reivindicando algo que o mundo lhe negou injustamente.
Em um período de crescente desigualdade, onde o sucesso parece muitas vezes depender de sorte, conexões ou truques de autopromoção, Ripley continua a encarnar tanto a fantasia quanto o medo do que significa “chegar lá”.
🎭 3. A moralidade líquida do século XXI
Ripley prospera em um mundo onde os limites entre certo e errado são nebulosos. Ele não mata por prazer sádico, como um assassino comum, mas por necessidade, estratégia ou conveniência. Ele se adapta às circunstâncias, ajustando sua bússola moral para justificar cada um de seus atos.
No século XXI, onde dilemas éticos permeiam desde a política até o consumo diário, a figura de Ripley se torna inquietantemente atual. Em um mundo de fake news, golpes financeiros sofisticados e carreiras construídas sobre meias-verdades, Ripley se torna um reflexo da sociedade—um mestre na arte de sobreviver em um ambiente onde os códigos morais são cada vez mais flexíveis.
📺 4. O interesse renovado nas histórias de golpistas e anti-heróis
A cultura pop dos últimos anos tem demonstrado um enorme apetite por narrativas centradas em golpistas e anti-heróis amorais. Séries como Inventando Anna, O Império da Dor, Succession e WeCrashed exploram figuras que, assim como Ripley, manipulam seu entorno para conquistar poder e status.
A nova adaptação de Ripley pela Netflix, estrelada por Andrew Scott, faz parte dessa onda de histórias que desconstroem a ideia tradicional de protagonismo. O público moderno não quer apenas heróis virtuosos—ele quer personagens que os desafiem moralmente, que provoquem tanto empatia quanto repulsa.
Ripley se encaixa perfeitamente nesse perfil: um homem sem um código moral claro, sem remorso aparente, mas com um charme que torna impossível desviar o olhar.
Ripley, um espelho de nossos tempos
Tom Ripley nunca foi apenas um assassino habilidoso. Ele é um arquétipo moderno, um reflexo das tensões sociais, da mobilidade de identidade e das ambiguidades morais que moldam cada época.
Patricia Highsmith criou um personagem que, ao invés de se tornar um vilão unidimensional, evoluiu para um ícone da literatura e do cinema, sendo constantemente reinterpretado. A cada nova adaptação, Ripley adquire nuances diferentes, adaptando-se ao espírito do tempo e às questões que mais inquietam a sociedade.
Se nos anos 1950 Ripley representava a ascensão do arrivista discreto e sem escrúpulos, hoje ele simboliza algo ainda mais profundo: a maleabilidade da identidade, a fragilidade das fronteiras entre verdade e mentira, e a eterna questão de até onde alguém pode ir para conquistar aquilo que deseja.
Ripley nunca desaparecerá porque, no fundo, ele é um pouco de todos nós.
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