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Foto do escritorRaul Silva

Crítica: Daredevil – 2ª Temporada

O mundo interativo hoje, seja ele cinematográfico ou televisivo, foi invadido na última década pelas adaptações. O que antes somente era escrito, para o que é vivido, interpretado por atores de carne e osso, como diz o ditado, recheando a imaginação daqueles que eram fãs do que liam, que sempre sonharam em ver aqueles seus personagens favoritos permeando as telonas e telinhas, podendo ser vistos e tocados. Dentre essas adaptações as que tem ganhado um grande destaque são as histórias advindas dos quadrinhos, dos gibis ou HQs. A considerada sétima arte, que há alguns anos vinha perdendo a força que tinha nos anos 70 e 80, depois de passarem por várias modernizações, de reconstruídas várias histórias de heróis e heroínas antigos e importantes inclusive, voltou com tudo como uma das melhores formas de entretenimento do público em geral de todas as idades em todos os lugares do mundo.


Foi pensando em fazer essas adaptações que a grandiosa Marvel, hoje comprada pela Disney, começou a criar um universo para seus heróis fora das páginas dos quadrinhos e levar para as telas. Eles queriam que ele fosse palpável, aceitável por toda a população mundial. Que fosse possível de se imaginar e aceitar como ficção científica de ponta. Eles conseguiram. A Marvel/Disney conseguiu fazer com que convivêssemos com o Capitão América, o Homem de Ferro, um deus nórdico Thor, um monstro verde gigante incontrolável, letais assassinos como a Viúva Negra e Gavião Arqueiro. E fez com que eles todos convivessem num mesmo mundo, interagissem e se unissem para salvar o mundo e deixassem todos, não só os fãs, impressionados depois do primeiro Os Vingadores.

Foi dessa inspiração que a Netflix, hoje uma das melhores redes on demand do mundo, resolveu conversar com a Marvel para adquirir os direitos de alguns heróis e criar também um universo super heroico menor, mas que tivesse tudo a ver com o que já está acontecendo nos cinemas, levando para as telinhas e claro, não deixassem de ser supervisionados pelos “grandões” que fizeram tudo ser e ter a fama que tem. E acertadamente a Netflix escolheu os heróis certos para tal universo.

Esses heróis compõem uma parte da Marvel chamada de Marvel Knights. Não são os grandes heróis. Os super ultra hiper da famosa linha de HQs. Mas são tão grandiosos quanto. Donos de suas próprias histórias em quadrinhos, mas quando aparecem ao lado de grandes como Homem Aranha, Capitão América ou Homem de Ferro, é como coadjuvantes. No entanto, esses heróis “menores” tem suas próprias fortalezas, seus próprios jeitos de inspirarem seus leitores. A legião de fãs não é das maiores, mas eles sempre tiveram seus fiéis. Esses que só os escolheram por conta de suas aventuras isoladas, longe das grandes explosões e destruições em massas, de conter ameaças mundiais, ainda que sejam capazes disso. São eles: o Demolidor, Justiceiro, Luke Cage, Blade, Elektra, Jessica Jones, Punho de Ferro, Motoqueiro Fantasma, etc. E para começar tudo, a Netflix escolheu como primeiro a ser apresentado o Demolidor. E que belo jeito de fazer a entrada do universo Marvel da Netflix!

Marvel’s Daredevil (Demolidor) na sua primeira temporada mudou o curso de tudo que já houve de adaptações de histórias de super heróis pra televisão. Havia dentre os fãs, e dentre o público em geral, os que não conheciam ou os que só ouviram falar, um medo generalizado. Será que foi a escolha de herói certa? O maior motivo dessa dúvida toda foi uma adaptação cinematográfica do mesmo há uns anos atrás que não deu certo. Cheio de críticas negativas e negado pelos fãs, o maior defeito do filme era que não fazia, nem de longe, jus ao personagem. Então será que agora iriam acertar o jeito de levar o personagem para o grande público? Ou só iria estraga-lo de novo? Bem, inesperadamente a série superou todas as expectativas e, como eu disse anteriormente, a Netflix revolucionou o jeito de adaptar heróis para tv.

A segunda temporada que estreou no fim de semana passado, mais precisamente no dia 18 de março, e veio para trazer mais surpresas e continuar a história que a primeira temporada deixou bem sólida. Com Matt Murdock (Charlie Cox) assumindo de vez o manto do Demônio de Hell’s Kitchen, ou para nós do Demolidor, essa temporada continua mostrando a guerra que o herói declarou contra o crime na cidade em que mora, mesmo tendo derrotado seu maior inimigo na temporada passada que foi o Rei do Crime, Wilson Fisk (Vicent D’onofrio). Ao mesmo tempo tendo que lidar também com sua vida como advogado de defesa e sua microempresa formada com seu melhor amigo Foggy Nelson (Elden Henson). Importante também para Matt é manter os laços de amizade tanto com Nelson quanto com Karen Page (Deborah Ann Woll), que sua vida dupla como Demolidor deixa muito a desejar esses momentos. Mostrando isso como a vida de Matt de agora em diante a série começa a mostrar que uma nova ameaça a Hell’s Kitchen está surgindo, pois à solto por aí anda um assassino em massa, destruindo tudo e todos pelos lugares em que passa, sem a menor piedade. O mais interessante é que, as principais vítimas desse cruel assassino são os bandidos remanescentes da cidade. E isso está incomodando não só a promotoria e a polícia locais como também o Demolidor, que não mata seus inimigos, mas sim os leva a ser presos e punidos pela justiça. É logo no primeiro episódio dessa segunda temporada, que começam as surpresas inéditas.

Esse assassino cruel é o Justiceiro, Frank Castle (Jon Bernthal). Um dos personagens mais adorados da Marvel Knights, a entrada dele na série levou muitos fãs à loucura! Todos querendo ver como sua introdução no universo Marvel/Netflix. Agora sem ter tanto medo do que viria, mas sempre com aquele receio comum. E não podia ser mais animador o que foi mostrado. Frank Castle, aqui com uma diferença de história de origem e com uma performance incrível de Bernthal, digna de ser aplaudida de pé, era um Marine, das Forças Armadas especiais dos Estados Unidos, ao voltar da guerra, ele queria viver sossegado ao lado da família, mas num dia normal, num parque, uma tragédia aconteceu e eles acabaram como vítimas de um tiroteio entre gangues. Sem contar mais nada para não estragar, ele, como o vingador incansável que todos conhecem, resolve fazer justiça com as próprias mãos. Vai atrás das gangues que mataram sua família sem o menor remorso, querendo matar até o último ínfimo integrante.

Daí surgi a dúvida: mas o Justiceiro é o vilão dessa temporada? Sim e não. Por que ele é melhor do que somente isso. Se é que existe tipo de personagem melhor que vilão. Mas o Justiceiro aqui é o que é para o universo Marvel. Um anti herói. Longe de ser um herói comum. Longe de ser um vilão de puro mal. O Justiceiro sempre foi um cara duro, bruto, que faz vingança com as próprias mãos, incompreendido pela maioria dos super heróis, mas que tem seu próprio código de conduta. Não é de ouvir muito a opinião dos outros. Ele age por conta própria, e não liga se o que faz é bem visto pelos outros ou não. Se algo está errado para ele, ele vai lá e extermina. Pune como diz o nome original do inglês: Punisher. Fiel aos quadrinhos, dando um baita trabalho ao Demolidor, a policia, a promotoria e a Karen Page para controla-lo. Então sim, por alguns episódios ele é uma espécie de vilão para Hell’s Kitchen. Contudo, dono de algumas das melhores cenas dessa temporada, e cuidado com os SPOILERS agora, como a conversa que tem com Demolidor amarrado no telhado e a outra numa prisão de segurança máxima quando, a mando do bandido que a comanda, se vê numa situação que precisa se livrar de um número considerável de bandidos num corredor estreito entre celas de prisão quase desarmado. No entanto, depois de tudo o que passou, de todos que conheceu e conviveu, conseguiu evoluir como personagem e no episódio final da temporada nos mostra essa nova versão dele. Um trabalho fantástico.

A outra surpresa dessa temporada foi a introdução na vida do Demolidor do furacão que tanto lhe perturbou nos quadrinhos. A ninja Elektra. Elektra Natchios já havia sido mencionada na temporada anterior como uma antiga namorada de Matt Murdock. Aqui foi mostrado como eles se conheceram e como foi baseado esse curto relacionamento deles.

A personagem em si teve também algumas mudanças na história de origem, mas assim que a temporada foi seguindo, vê-se ela se aproximar cada vez mais do que é nos quadrinhos. Diferente também do que aconteceu na adaptação cinematográfica a alguns anos atrás. Aqui, a atriz Elodie Yung dar vida uma crível Elektra. Uma mulher rica, que teve que assumir a mega empresa do pai que havia morrido a pouco tempo, mas que, no fundo, é uma assassina letal que está numa missão para descobrir quem é uma das empresas que quer criar laços com os negócios da família Natchios. Há aí, muito mais história por trás, muito mais gente envolvida, um inimigo bem mais grandioso. A entrada de Elektra foi para dar o curso da verdadeira história da segunda temporada da série. Ela foi a chave e o estopim de tudo. Ela é uma mulher charmosa e sedutora, o relacionamento dela com Matt Murdock é muito bem construído, ela o conhece melhor do que ninguém e já chega pedindo a ajuda dele como Demolidor. Nas palavras dela: “Matt você é um dos melhores lutadores que eu conheço.” Isso foi só o começo do que eles tiveram que lidar juntos. Sem entregar mais tanta coisa.

Além da introdução desses novos personagens, houve também na série a evolução dos personagens principais, aqueles que já conhecíamos desde a temporada passada. Há quem diga que não, mas qual é, se não, a evolução dos personagens a sacada principal de qualquer história? Uma história que não nos apresenta nada novo em termos da psique, do caráter e da personalidade de seus personagens principais se torna chata e repetitiva. Não nos traz nenhuma surpresa por que nós que a acompanhamos já sabemos como cada personagem vai reagir em cada situação. Felizmente, Demolidor não tem isso.  Na mesma temporada o principal Matt Murdock vê seu mundo ascender e despencar ao mesmo tempo. As provações da vida são para todos. O que diferencia o rumo a ser tomado é como cada um vai reagir a cada situação de dificuldade. No começo da temporada Matt Murdock era uma pessoa, no final, ele outra totalmente diferente. Karen Page também passa pelo mesmo processo de mudança até no final assumir seu verdadeiro lugar de direito como nos quadrinhos, a de repórter do Boletim. Ela se vê perdida entre o amor que sente por Matt Murdock, a afeição que tem pela Nelson&Murdock e seu senso de justiça. Faz de tudo para proteger e ajudar a todos, mas percebe que não pode ou não tem como fazer isso. Como uma personagem altruísta, mas cheia de defeitos, ela quer abarcar o mundo com as mãos e não consegue. E no fim vê que o melhor é seguir um rumo só e esperar que com essa escolha ela possa continuar ajudando as pessoas. Foggy Nelson é outro que sai da situação de melhor amigo preocupado constantemente com a vida que Matt leva, para o melhor amigo que quer ter uma vida própria, construir o próprio futuro. Sem abandonar Matt, mas também sem estar nos seus encalços. Há várias participações especiais como a presença da Enfermeira Noturna, Claire Temple (Rosario Dawson), inclusive a volta de um personagem muito esperado. Centenas de ligações com as outras séries que estão sendo construídas no mesmo universo e algumas com o universo cinematográfico da Marvel.

Em resumo, foi uma temporada tão digna e justa como a anterior, se aproximando cada vez mais dos quadrinhos, sonho de muito fã ver isso acontecer, sem deixar nada repetitivo e com um sentimento de que já se tinha visto. Dando espaços e brechas para o universo que vem sendo construído. Universo esse que vai unir os personagens da Marvel Knights que a Netflix vem apresentando como a já mostrada Jessica Jones, o que vem ainda esse ano a ser, no dia 30 de setembro, Luke Cage e o mais futuramente Punho de Ferro. Deixando também várias pontas soltas no final preparando-se para a terceira temporada, Marvel’s Daredevil (Demolidor) comprova que uma série de super herói pode sim ser uma boa forma de entretenimento e aprendizagem hoje em dia. Que há sim como fazê-las com qualidade. Dona de cenas fantásticas, digna de filmes de alto escalão, como uma cena incrível de luta do Demolidor com uns ninjas descendo uma escadaria de um prédio (muitos filmes de ação gostariam de ter pensado numa cena dessas) e de falas de roteiros com conteúdo, tendo Elektra e Stick (Scott Glenn), o velho treinador cego, como donos das melhores, na minha opinião. Essa segunda temporada não decepciona e só nos faz querer ver mais e mais esse universo da Netflix até chegar ao estopim nerd/geek do futuro que será, tenho quase certeza, Os Defensores. Que venha uma terceira temporada talvez antes e que venha Luke Cage.

Recomendadíssimo!!

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